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ntes da chegada da abelha Apis mellifera no continente americano ou da exploração da cana para fabricação de açúcar, o mel das abelhas nativas caracterizava-se como principal adoçante natural, fonte de energia indispensável em longas caçadas e caminhadas que os povos nativos

realizavam na busca por alimento.

Muito do conhecimento tradicional acumulado pela população nativa foi gradativamente assimilado pelas diferentes sociedades pós-colonização, tornando a domesticação das abelhas sem ferrão uma tradição popular que se difundiu principalmente nas regiões norte e nordeste do Brasil.

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A herança indígena presente na atual lida com as abelhas é evidenciada pelos nomes populares de muitas espécies, como Jataí, Uruçu, Tiúba, Mombuca, Irapuá, Tataíra, Jandaíra, Guarupu, Manduri, Mandaçaia e tantas outras.

Por conta disso, chamamos estas espécies nativas de abelhas indígenas, ou meliponas, numa referência à família a que pertencem, dentro da classificação de espécie, a Meliponidae. Do grego, meliponas significa

“trabalhadoras do mel” (Méli = mel + pónos = trabalho) e é numa referência a esse nome, que chamamos os apiários onde criam-se abelhas sem ferrão de Meliponários.
Embora muito cultivada por pequenos produtores, a produção de mel das meliponas é muito pequena, o que impossibilita a comercialização em escala industrial.

A organização social e os métodos de produção das meliponas variam de acordo com a espécie, mas de modo geral, podemos destacar a organização dos favos em lâminas horizontais, diferente das africanizadas e européias, que utilizam a disposição vertical. Outra diferença básica na produção é que as meliponas separam as células de crias nos favos e armazenam o pólen e o mel em potes de cera separados. Além disso, duas ou mais colônias podem crescer consorciadas, sem riscos de saque ou ataques à rainha. O tempo de vida de um individuo meliponíneo pode variar

de acordo com o clima e o tipo de atividade que ele mais desenvolveu durante a sua vida. Uma operária vive em torno de 40 a 52 dias. Já uma rainha pode viver de 1 a 2 anos.

Conheça as abelhas indígenas mais comuns:

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(Tetragonisca Jaty)

No tupi antigo significa “água de fruto duro”, provavelmente numa referência ao mel claro dessas abelhas.  As Jataí são encontradas em todas as regiões do Brasil, assim, é considerada a abelha sem ferrão mais popular do país.

Abelhas Jataí constroem ninhos de cera em espaços ocos, tanto na natureza como em centros uranos, onde são facilmente encontradas. A entrada do ninho tem o formato de um canudo, como um dedo de luva.

Apresenta cabeça e tórax pretos, com abdômen amarelo escuro e pernas pardacentas. Mede até 4 mm de comprimento. Tem o hábito de morder a roupa das pessoas e também pode se enroscar nos cabelos se for provocada, ainda que seja considerada uma abelha dócil e de fácil manejo. Produz mel muito claro, de aroma suave. É muito valorizado, porém escasso.

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(Melipona Quadrifasciata)

Na linguagem indígena significa “Vigia Bonito”, devido à presença constante de uma vigia na entrada da colônia. Mede cerca de 1cm de comprimento, com o corpo mais rousto e volumoso que o das abelhas comuns, da espécie Apis Mellífera. Ela é uma das aelhas nativas mais bonitas, com cabeça e tórax pretos, abdômen com faixas amarelas interrompidas e asas cor de ferrugem.

Elas costumam fazer ninhos em ocos de árvores e são abelhas muito mansas, tornando o manejo fácil. Sua criação racional deve ser valorizada pois é através delas que muitas plantas nativas são polinizadas e preservadas. Além disso, a Abelha Mandaçaia produz um mel de sabor muito agradável e varia entre a cor de pêra verde ao caramelo queimado. O mel é mais líquido e cheiroso, imprimindo sabores de acordo com a floração visitada. Em épocas de florada intensa, cada colméia chega a produzir de 1,5 a 2,0 quilos de mel.

A mandaçaia é uma abelha endêmica do Brasil, não tendo ocorrência significativa em outros países.

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(Trigona spinipes)

Também chamada de Abelha-cachorro, Arapuã ou Irapuá, sendo que irapuá é considerado o nome mais indicado, pois na língua tupi, “Irá” significa mel e “pua” significa redondo, formato do ninho dessas abelhas na natureza.

Não possui ferrão, mas se enrosca agressivamente nos cabelos das pessoas e nos pelos do corpo de mamíferos. Isso acontece pois seu corpo está sempre coberto de resinas de árvores como o pinus ou o eucalipto. Também por isso, seu mel pode ser considerado tóxico, não sendo recomendado para o consumo.

Mede entre 6,5mm à 7mm de comprimento, com pernas ocreadas e asas quase negras na base, tendendo para a transparência da metade para as pontas. É encontrada em todo o Brasil e por conta dos impactos ecológicos, pode ser considerada uma praga em regiões de produção intensa de flores e bananas, posto que danifiquem botões e frutos.

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(Melipona scutellaris)

Abelhas Uruçu são conhecidas por serem abelhas grandes, robustas e ótimas produtoras de mel. Uruçu é uma palavra que vem do tupi “eiru su”, que na linguagem indígena significa “abelha grande”. Portanto as operarias medem de 10 mm a 12 mm de comprimento. O nome “uruçu” está relacionado com diversas abelhas do mesmo gênero, encontradas não só no Nordeste, mas também na região amazônica. A tendência, porém, é a de reservar o termo “uruçu” para a abelha da zona da mata do litoral baiano e nordestino, que se destaca pelo tamanho avantajado (semelhante à Apis), pela produção de mel expressiva entre os meliponíneos e pela facilidade do manejo.

Elas polinizam culturas de abacate, pimentão e pitanga e são encontradas na região Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe). Na Bahia é uma espécie bastante explorada devido a facilidade de criação e a excelente produção de mel. Embora seja uma espécie que esteja sendo amplamente distribuída para além de suas áreas limites por meio do tráfego ilegal, é reconhecida como ameaçada de extinção nas suas áreas de distribuição natural (Fragmentos de mata atlântica do Nordeste).

Os ninhos têm entrada típica, sempre com abertura no centro de raias de barro convergentes, sendo que também podemos encontrar ninhos cujas raias de barro são elevadas e formam uma coroa, freqüentemente voltada para baixo. Essa entrada, que dá passagem para as abelhas, é guardada por uma única operária.

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(Plebeia droryana)

Também chamada de abelha-mosquito, jataí-mosquito etc. É uma abelha social sem ferrão, inteiramente mansas, de ampla distribuição no Brasil. Nidifica em fendas de árvores ocas e bura­cos nas rochas ou muros desde que os ocos sejam de tamanho apropriado e não aquecidos pelo sol em demasia. Seu mel é muito apreciado, porém escasso. Sua produção anual não ultrapassa 500 gramas, porém é excelente polinizadora, sendo útil em diversas culturas agrícolas.

A entrada do ninho é feita com própolis e é geralmente curta no exterior do ninho. As colônias podem ser constituídas por 2.000 a 3.000 abelhas e são muito comuns em ambientes urbanos, alojadas entre tijolos ou em fendas e podem formar consórcios com outros enxames da mesma espécie. Seu nome indígena, mirim, é uma referência ao tamanho de cada indivíduo, cerca de 3 mm.

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(Melipona subnitida)

A Abelha Jandaíra é uma espécie de abelha endêmica do bioma Caatinga, que distribui-se geograficamente nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Esta espécie se caracteriza pela cabeça preta, tórax marrom ligeiramente aveludado e abdômen preto.

A Jandaíra contribui para a polinização de várias frutas e sementes da Caatinga, como o caju e tem preferência pelas plantas nativas, como a jurema preta, marmeleiro e pau ferro.

Seu mel apresenta sabor especial e coloração variada que pode ser âmbar, esverdeado puxando às vezes para um amarelo ouro suave ou branco, variando de acordo com a flora. Colônias de jandaíra são conhecidas por produzir até 6 quilos de mel por ano, na região da Caatinga, no Brasil. Este mel, chamado mel de jandaíra, é considerado bastante rentável e mantém um gosto particular.

Esta espécie é capaz de ajudar a população nesta área a ter uma indústria rentável com a condição de que a extração predatória e desmatamento são mínimos, que é a principal causa do declínio das jandaíras. Sua importância junto às populações tradicionais é tão grande, que seu nome significa justamente “abelha do mel” (do tupi antigo, jandiá irá).

Por conta disso, sua designação popular de Jandaíra não é exclusiva desta espécie, que causa certa confusão como no caso da Jandaíra-preta (Trigona amalthea).

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As mamangavas podem ser encontradas até nas regiões mais frias do mundo. Existem duas tribos de abelhas identificadas assim, as Bombini (Bombus) e as Xilocopini (Xylocopas).

As Bombus são grandes, peludas e possuem abdome largo e piloso, geralmente de cor negra e amarela, as “bumblebees”. Medem à volta de 3 cm de comprimento. Dentre as 200 espécies conhecidas, 6 foram descritas no Brasil. São conhecidas como mamangavas-de-chão, por seu hábito de nidificar em tocas e moitas ao nível do solo.

As Xylicopas, também chamadas de Abelhas carpinteiras, por seu hábito de fazer ninhos perfurando troncos e tábuas espessas, são ainda maiores, podendo chegar aos 3,5 cm! Seu corpo é brilhoso, podendo variar do purpúreo ao esverdeado e algumas espécies possuem listras alaranjadas em seu abdômen. Mais de 50 espécies de xilocopini são catalogadas no Brasil, mas poucas foram estudadas em seus hábitos e ciclos de vida.

O nome “mamangava” tem origem tupi (manga ngá) e significa “besouro que roda”, por seu costume em rodear as flores antes do pouso, emitindo um zumbido alto ao voar.

Estas abelhas não produzem mel comercialmente, mas têm um papel importante na polinização de muitas plantas, como o tomate, pimentão, o trevo e a alfafa entre outras. São muito importantes no Brasil, pois são as únicas capazes de polinizar o maracujá, por exemplo.

Uma mamangava raramente ferroa, a não ser que seja provocada; caso isso aconteça, a sua ferroada é muito dolorosa. Ao contrário das abelhas do gênero Apis, uma mamangava pode ferroar várias vezes, pois seu ferrão é liso.
A mamangava produz mel, mas em pouca quantidade e armazena-o dentro de bolsas de cera e não em favos.

São abelhas semi-sociais, ou seja, vivem solitárias por grande parte de seu ciclo de vida, mas em algumas situações, fêmeas férteis fundam uma colônia que pode chegar a algumas dezenas. Essas rainhas fundam seus ninhos sozinhas, escavando troncos e tábuas espessas. O principal material usado para o ninho é a cera, fabricada pela rainha nas glândulas localizadas no abdômen. As rainhas de outras espécies sociais geralmente não são capazes de produzir cera. Um pote para armazenar mel e uma célula de cria iniciam o novo ninho.

A rainha põe ovos nas células de cria, alimenta as larvas que nascem, coleta o pólen, o néctar e mantém o ninho. Logo ao nascer, as primeiras operárias passam a auxiliar a mãe nos trabalhos, seguindo uma tabela de tarefas de acordo com a idade, como nas outras espécies de abelhas sociais. As operárias e a rainha possuem um ferrão muito potente usado na defesa, que pode ser usado várias vezes seguidas sem prejuízo para as abelhas.

A partir de um certo momento a rainha começa a por ovos não fecundados, que darão origem a machos, enquanto que algumas larvas de fêmeas terão sua alimentação reforçada e se tornarão adultas férteis. Então estas novas rainhas serão fecundadas por machos – somente uma vez na vida – e fundarão novos ninhos. Às vezes pode acontecer de rainhas fecundadas retornarem para o ninho de origem e ali conviverem com a mãe. Neste caso estas famílias tornam-se políginas, isto é, possuem mais de uma rainha.

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Os Euglossíneos são conhecidos como as “abelhas das orquídeas” pelo fato dos machos desta tribo apresentarem uma íntima relação com as flores de um grande número de espécies de Orchidaceae, sendo polinizadores exclusivos de algumas espécies do grupo. As abelhas euglossíneas estão entre os polinizadores nativos mais importantes da região neotropical. A riqueza e a abundância destas abelhas têm sido intensamente estudadas em diferentes ecossistemas baseando-se na captura de machos em iscas-armadilhas. As fêmeas são pouco conhecidas para a maioria das espécies e; portanto; caracteres morfológicos que permitam sua identificação taxonômica não têm sido descritos.

Muitas “abelhas das orquídeas” são facilmente reconhecidas por conterem uma pigmentação metalizada, geralmente em tons de verde e azul (embora possam ser confundidas com membros de outros grupos, como abelhas Halictidae ou mesmo vespas Chrysididae). Os machos visitam as flores de orquídeas para coletar compostos aromáticos, especialmente terpenos e sesquiterpenos que são secretados por regiões especializadas do labelo da flor. Ainda não se tem certeza sobre a função destes compostos, mas as hipóteses mais aceitas atribuem uma função sexual a tais substâncias após sua “metabolização” podendo atuar, por exemplo, no processo de acasalamento, como fator de reconhecimento específico e/ou de seleção sexual.

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